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Lu no Marrocos | Casablanca, Volubilis e Moulay Idriss

Segundo post do destino Marrocos, escrito e vivenciado pela Lu Flor, nossa editora de destinos diferentes. 

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Voltei para continuar a dividir com vocês minhas aventuras pelo reino do Marrocos. Contarei um pouquinho da primeira etapa da viagem que abrange Casablanca, Volubilis e Moulay Idriss.

Chegamos a Casablanca nas primeiras horas da madrugada, e por este motivo fomos direito para o hotel. Por se tratar da primeira vez em solo marroquino, e chegando tarde da noite, minha escolha de hospedagem ficou mais limitada. Levando em consideração que os pré-requisitos básicos para a escolha do hotel em todas as minhas viagens são localização e limpeza, desta vez, outro pré-requisito foi o serviço de translado do aeroporto para o hotel, mesmo que cobrado a parte.

Acabamos optando pelo Sofitel Casablanca Tour Blanche. O hotel é um sonho. Lindo e com os serviços e comodidades que um Sofitel pode oferecer. O tamanho do quarto é bom e a cama muito confortável. A equipe é excelente e o café da manhã delicioso com muitas opções “internacionais” além de uma forte presença de doces franceses. Enfim, foi uma experiência maravilhosa e uma maneira incrível de começar a viagem.

Apesar de chegar tarde ao hotel e ir dormir super tarde, acordamos cedo para aproveitarmos as poucas horas que teríamos na cidade. A primeira parada foi na estação de trem Casa Port, que fica ao ladinho do hotel. Fomos até a estação para comprar chips para os celulares (DHM 120 por chip pré-pago de 30 dias pela operadora INWI) e nossas passagens para Fez. Da estação começamos a explorar um pouco a região. Li em alguns guias de viagens que não vale a pena conhecer Casablanca, mas fiquei curiosa em conhecer a região em que estávamos antes de seguir para a próxima cidade.

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A influência da colonização francesa está por todos os cantos. Juro que em algumas ruas tive a sensação de estar novamente andando por alguma cidade no interior da França. Perdemo-nos bastante no início, o Google Maps funciona bem, mas o sinal de internet (3G) nem sempre é bom e muitas ruas apareciam escritas em árabe no meu aplicativo, mesmo quando nas placas de trânsito os nomes constavam nos dois idiomas, francês e árabe. Além da mesquita Hassan II, queria muito ir até o cinema Ri Alto.

Devido ao horário do nosso trem para Fez, decidimos ir a Hassan II no final da viagem, quando retornaríamos à Casablanca. Contudo, mudamos os planos ao chegar em Marrakech e fomos de Marrakech direto para o aeroporto de Casablanca sem ter conhecido essa mesquita, uma das raras mesquitas espalhadas pelo Marrocos e que não-muslins podem entrar. Hoje, se soubéssemos que não teríamos tempo para ir a Mesquita Hassan II, nem teríamos ido a Antiga Medina. Ficará para a próxima viagem.

Já o Cinema Ri Alto é lindo! Este cinema foi construído no inicio da década de 30 com influencias art-deco. A arquitetura é linda e os detalhes da decoração no hall interno são elegantes e suntuosos. O cinema possui apenas uma sala de exibição e ainda encontra-se em funcionamento. Infelizmente não tivemos tempo de assistir um filme, mas durante o tempo que passei lá dentro, fiquei imaginando todo o glamour que envolveu este local nas suas décadas de glória.

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A partir do Ri Alto, fomos para a antiga Medina conhecer e sentir um pouquinho de sua loucura. A Medina de Casablanca é pequena, mas com todas as características de uma Medina tradicional: ruas estreitas, trânsito restrito a veículos e incontáveis lojinhas no souk que dão um colorido de encher os olhos.

No meio da tarde partimos em direção a Fez. Por sugestão/orientação de um amigo, compramos as passagens de primeira classe. O termo “primeira classe” assusta um pouco e eu já imaginava que pagaríamos uma fortuna pela viagem. Sim, o valor da passagem é um pouquinho maior que a tarifa da segunda classe (DHM 165 1ª classe e DHM 110 2ª classe), mas como os trens são bem simples e antigos, a grande vantagem de viajar nos vagões da primeira classe é ter seu assento marcado na compra e evitar transtornos no embarque ou mesmo durante a viagem.

A viagem durou cerca de 3 h e 30 min e nos levou de Casa Voyageurs (não é a mesma estação que fica próximo ao hotel em que nos hospedamos) à Fez. O trem que partiu de Casablanca às 16 h 10 min nos permitiu ver a paisagem mudando ao longo do trajeto. O pôr do sol visto do vagão de um velho trem é lindo e já foi possível sonhar com os tons terrosos e alaranjados que faziam parte dos meus sonhos sobre o Marrocos. A paisagem e a vegetação mudavam a cada minuto, conforme nos afastávamos do litoral. O Marrocos possui belíssimas e diversificadas paisagens e eu já estava encantada com o que estava vendo e mal podia imaginar que aquilo era apenas o começo.

Fez merece uma publicação a parte, pois tenho muito a dividir com vocês sobre essa cidade exótica. A partir de Fez, e com a ajuda do Sr. Hassan, contratamos os serviços de um guia/motorista que nos levou a Volubilis e Moulay Idriss (DHM 700 em uma SVU. Este preço é para duas pessoas).

Volubilis é um sítio arqueológico e patrimônio mundial da UNESCO desde 2009. Fundada no século 3 a.C., Volubilis foi capital da Mauritânia durante o Império Romano, as ruínas que hoje podemos visitar compreendem cerca de metade da cidade original e só não estão em melhores condições, pois um terremoto em meados do século XVIII devastou aquela área. Além do terremoto, grande parte das pedras das ruínas foram saqueadas para a construção de Meknes. Mesmo com estes acontecimentos, este sítio arqueológico conseguiu proteger grande parte de sua autenticidade.

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O abandono de Volubilis por quase mil anos também contribuiu para a sua preservação. Somente no final do século XIX, durante o domínio francês, é que o local foi devidamente identificado. Durante os trabalhos de escavação, lindos mosaicos foram revelados.

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Esta área foi ocupada por cerca de 10 séculos, além dos belos mosaicos, é possível encontrar vestígios de todas as fases de sua ocupação da pré-história ao período islâmico. O trabalho de pesquisa na área é permanente e descobertas continuam sendo documentadas pelos arqueólogos.

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A visita a Volubilis durou cerca de 2 horas e a entrada custa DHM 20/pessoa. Apesar de várias pessoas oferecerem o serviço de guia na entrada, basta um mapa das ruínas para explorar o local. Sugiro apenas uma pesquisa prévia para identificar os pontos de maior interesse.

Na noite anterior ao início desta viagem ao Marrocos, ainda no Brasil, comecei a sentir os primeiros sintomas de uma gripe e as mudanças bruscas de temperatura e de clima não colaboraram muito, e foi justamente no dia em que fomos a Volubilis e Moulay Idriss em que senti a gripe querendo me derrubar mesmo. Com isso, acabamos nem saindo do carro para explorar Moulay Idriss, fizemos apenas paradas breves, pois eu estava louca para voltar a Fez e descansar.

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Quando voltar ao Marrocos, é certo que retornarei a Moulay Idriss para dedicar tempo a conhecer esta cidade tão especial ao povo Marroquino. Deixo aqui um pouquinho da história da cidade e que é um dos mais importantes destinos religiosos do Marrocos.

Moulay Idriss el Akhbar foi bisneto do Profeta Maomé, devido a perseguições, fugiu de Meca e chegou ao Marrocos em 787. Idriss se abrigou nas proximidades de Volubilis, onde converteu os moradores ao Islã e tornou-se líder deste povo, estabelecendo assim, a primeira dinastia árabe do Marrocos: a dinastia Idrissid. Foi ele quem deu início a construção de Fez. As principais atrações da cidade são o túmulo e a Madrasa Idriss. Apenas mulçumanos podem visitar o túmulo, entretanto, é possível ver o túmulo do Terrasse Sidi Abdallah el Hajjam. Já a Madrasa Idriss merece uma visita por ter sido construída com materiais romanos retirados de Volubilis. Esta Madrasa é facilmente localizada na cidade, pois possui um minaret moderno e bem diferente dos demais: é cilíndrico e possui um capítulo do Alcorão inscrito em mosaicos verdes. Até pouco tempo, apenas mulçumanos podiam pernoitar na cidade, hoje há poucas pousadas de famílias locais que recebem visitantes. O melhor de passar a noite em uma cidade que por tanto tempo passou restrita a visitantes, é poder vivenciar um pouco da cultura marroquina como um marroquino.

Apesar das recomendações de deixar Casablanca de lado, recomendo dedicar no mínimo um dia para conhecer um pedacinho da cidade e sentir sua energia. Lembre-se que a cidade é uma das mais importantes da Africa e um valioso centro econômico e industrial do Marrocos. Ja Volubilis e Moulay Idriss merecem essa viagem de um dia pela sua importância histórica. Retornarei em breve com mais um post sobre a incrível Medina de Fez.

Para facilitar o entendimento deste texto e dos que seguirão este, deixo aqui algumas palavras úteis e seus significados.

*Madrasa: palavra árabe para qualquer tipo de instituição de ensino seja ela secular ou religiosa (de qualquer religião). No Ocidente, a palavra é utilizada para especificar que determinada instituição de ensino voltada para o estudo da religião islâmica.

*Medina: palavra de origem árabe que significa cidade. É ainda um velho bairro árabe localizado no norte do continente africano. Medinas são tipicamente muradas, possuem ruas estreitas e formam verdadeiros labirintos.

*Riad: Casa ou palácio tradicional marroquino com um jardim central. A maior preocupação destas construções é em relação à privacidade. Fontes e árvores frutíferas fazem parte deste pátio central. Todas as janelas dos quartos são voltadas para este vão central onde esta localizada o jardim/pátio. Muitos destes casarões são utilizados nos dias atuais como hotéis ou restaurantes.

*Souk: mercados ao ar livre, tradicionais e localizados no Norte da África. A palavra, com diversas grafias e mesma sonoridade, pode designar mercado em qualquer cidade do Oriente Médio e no Ocidente, em mercados localizados dentro de comunidades mulçumanas.

As informações históricas que citei sobre Moulay Idriss foram um super resumo de diversas fontes: Wikipedia, Lonely Planet, TripAdvisor, Unesco e sacred-destinations.com.

Para ler todos os posts escritos pela Lu, clique aqui. Para ler todos os posts do Marrocos, clique aqui.

Lu


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